As Imagens na Perspectiva do Currículo

A leitura de textos escritos é um exercício ao qual já estamos familiarizados. Entretanto, quando se trata da leitura de imagens muitos aspectos devem ser analisados. Um dos aspectos mais relevantes é o caráter polissêmico, ou seja, a multiplicidade de significados que estão inseridos nas imagens. Sejam elas fotografias, charges, obra de arte, gravura, enfim, as imagens devem ser interpretadas em função do tipo e contexto onde estão inseridas.
Retomando o contexto polissêmico, que no sentido de múltiplos significados pode contribuir na experiência da leitura de imagens, vamos analisar as duas imagens posicionadas abaixo:
 

Imagem 01 – Gotas de Orvalho (nome definido pela autora do texto)


Primeira estrofe do “As duas Flores” - Castro Alves
São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

O poema de Castro Alves carrega a palavra orvalho em uma de suas estrofes. Assim como, a imagem anterior, carrega gotas de orvalho em verdes folhas frescas. Transmite sensação de natureza e frescor. Dessa forma, fica bem clara a idéia de que imagens transmitem sensações e significados.
Agora, vejamos uma breve definição ciêntífica da palavra orvalho:
“O orvalho, sereno ou rocio é um fenômeno físico no qual a umidade do ar precipita por condensação na forma de gotas pela diminuição brusca da temperatura ou em contato com superfícies frias. É o processo contrario da evaporação.”.[1]

Nesta breve definição já temos uma outra significação para a palavra orvalho. Aqui, ela está relacionada a um conceito fisico ligado ao estado da água e as condições atmosféricas. Provavelmente, o orvalho para o poeta não é o mesmo para o fisico, assim como não é o mesmo para o fotógrafo da imagem referenciada. Portanto, o sentido está bastante articulado ao contexto onde a imagem está inserida.

Imagem 02 – Paisagem urbana (nome definido pela autora do texto)


Nesta outra imagem vemos um prédio alto fotografado de um ângulo diferente. A impressão que passa é de que esta imagem foi capturada de numa certa distância do prédio e abaixo da ponte. Mas quais eram as intenções de quem capturou essa imagem? Mostrar uma paisagem urbana? Analisar um projeto arquitetônico? Capturar as imagens do céu nebuloso? È um exercicio de decodificação relativamente complexo. Essas duas imagens podem se entrelaçar em algum aspecto? Claro que sim. Quem garante que a primeira imagem não pode estar contida na segunda? É bastante possível.
A produção da imagem é um trabalho de comunicação. Um trabalho complexo e entrelaçado entre eventos, personagens e processos de representação. É um processo intencional. Mas qual a relação desse processo com as teorias curriculares? O que essas imagens podem ter haver com essas teorias? Tudo!
Essas imagens poderiam estar relacionadas a conteúdos escolares. Nessa perspectiva, podemos pensar no modo como a escola relaciona esse conteúdo pedagógico e currículos. Assim como as imagens podem ser lidas sob o enfoque da polissemia, podemos também perceber o desenvolvimento do currículo como um trabalho carregado de diversos significados.
Para um currículo tradicional as imagens descritas podem não ter quase nenhuma relação. Elas podem ser tratadas como coisas isoladas e fragmentadas. As figuras podem representar fragmentos de disciplinas e serem aplicadas de forma que os alunos compreendam o conhecimento de forma fragmentada também. Quem seriam os personagens desse processo? Alunos e professores. Contudo, esses últimos, ganham destaque no processo pedagógico. Depois dos especialistas decidirem o que ensinar, eles é que determinam como e quando será ensinado.
Essa concepção é a base do currículo tecnocrático que começou a ganhar destaque com Tyler. Esse modelo tem bastante preocupação com as cobranças de formação para as exigências profissionais da vida adulta. Nesse sentido não se pensa em uma educação que tenha preocupação com a formação integral do aluno. O que se percebe é uma dicotomia entre a teoria e a prática.
Tratando o conteúdo curricular com ênfase na interdisciplinaridade podemos notar uma grande diferença no tratamento com o conteúdo curricular. As imagens apresentadas poderiam retratar a integração de áreas disciplinares. Desse modo, conteúdos são trabalhados pensando a partir da realidade do aluno. Conforme vimos nas imagens, a realidade humana aparece descontextualizada. É por meio de um complexo trabalho pedagógico que a escola articula e contextualiza o saber. Discorre, orienta, constrói e dá sentido à atividade escolar que leva o educando a construir seus próprios significados. 

Por Patrícia Lisboa.



[1] Trecho do texto “Orvalho”, retirado do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Orvalho

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